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Claudio Marques, lenda do bodyboarding, conta o perrengue que passou em Sunset

Hawaii 1989 nova bodyboarding Kpaloa Claudio Marques

Claudio Marques, renomado bodyboarder brasileiro, é bastante respeitado por feitos incríveis e históricos. Um deles, foi ter participado em 1986 da primeira delegação brasileira a competir no campeonato mundial de bodyboarding em Pipeline, no Havaí. Nessa mesma competição, Claudio fez história ao conquistar o 10º lugar, feito inédito até então para um atleta não havaiano. Em 1988, Claudio foi o primeiro brasileiro a vencer uma etapa internacional de bodyboarding e isso aconteceu na Austrália. Além de muitos outros títulos na bagagem e tantas memórias inesquecíveis, Claudio Marques também passou por alguns perrengues no mar e fez um breve relato sobre um deles.

Hawaii 1989 nova bodyboarding Kpaloa Claudio Marques

“Durante meus 40 anos de bodyboard, muitos momentos marcaram minha vida e minha carreira. Foram muitas vitórias, conquistas importantes e derrotas também, como ocorre na vida de todos os atletas que se destacam nos esportes que praticam. Os bons resultados e as vitórias têm sempre espaço nos meios de comunicação e, hoje em dia, nas redes sociais. O que geralmente não se divulga muito são os perrengues, que assim como as vitórias e derrotas, também acompanham a carreira, principalmente dos atletas que praticam esportes radicais. Então vou contar aqui o maior perrengue que passei dentro d’água até hoje.

Isso foi no Havaí, em 1988. Era um final de tarde e o mar estava uns 6 pés. Não tinha muita onda no North Shore, então fomos para Sunset, que estava quebrando com mais consistência. O mar estava bem crowd, acho que mais de 50 surfistas disputavam as raras séries no outside. Até que eu estava conseguindo pegar as boas da série, vindo lá de trás, onde o crowd é mais selecionado e exige mais paciência, pois as intermediárias passam e servem aquela galera mais afobada. Depois de mais de uma hora surfando, fui presenteado com uma série de 8 pés, que veio para mim como um presente. Lembro exatamente como me senti privilegiado, surfando, até então, a maior do dia, rasgando a onda, passando entre os surfistas que esperavam as intermediárias. Voltei pelo canal amarradão, com aquele sorriso contido, para evitar confusão com os locais. No Havaí é assim, nada de comemorações depois de uma onda boa. Chegando no outside, mais uma série de 8 pés entrou e eu não acreditei que mais uma sobrara para mim. Naquela hora, achei que era mesmo o meu dia de sorte. Peguei mais uma… inacreditável! Que fim de tarde incrível, pensei. Mas quando estava voltando pelo canal, outra série apontava no horizonte e parecia ser a maior de todas. Até fiquei animado, achando que as séries estavam mais frequentes, mas percebi que algo estranho estava acontecendo. Passei a série e uma outra maior ainda vinha muito lá fora. Dessa vez uns 10 pés fácil. Onde eu estava não tinha muito o que fazer, a não ser remar forte para passar as ondas. Passei a série de 10 pés e outra maior ainda vinha lá atrás. Em poucos minutos, as séries já estavam com 12 pés, cada vez vindo mais lá fora.

Waimea Bay 1992 claduio marques kpaloa team

Logo me dei conta que meu dia de sorte estava se transformando em pesadelo. Metade dos surfistas já tinham saído do mar e as séries já passavam dos 15 pés, vindo uma atrás da outra, sem trégua. Eu remava sem parar, e o mar já com ondas de 18 pés. As séries entravam fechando o canal, emendando Sunset com Kammieland, uma esquerda que quebra do outro lado do canal. E eu passando as ondas no limite de ser engolido. A cada onda que eu passava, meu fôlego ia se esgotando. Já estava no meu limite físico, rezando por uma calmaria e para que o mar parasse de subir. Uma onda na cabeça, naquele momento, certamente seria fatal. Para minha sorte, depois de uns 40 minutos naquela situação, o swell estabilizou e pude recuperar um pouco meu fôlego. Agora minha preocupação era sair do mar. Além da situação fora de controle, restavam poucos minutos, antes que viesse a escurecer. Lembro que próximo a mim havia outro surfista, com a mesma expressão de pânico. Sair do mar, pegando uma onda das séries que fechavam o canal, seria impossível. A solução era pegar uma onda intermediária. Mas para pegar uma intermediária, teria que remar mais para o inside, sob o risco de levar a série na cabeça. O fato é que não havia outra escolha. Era melhor correr esse risco do que ficar ali até escurecer. Foi o que fizemos. Quando deu uma calmaria entre as séries, eu e o surfista remamos forte em direção ao inside. Como uma recompensa pela nossa decisão, veio uma onda intermediária que parecia ser a nossa salvação. O surfista remou, mas não conseguiu entrar e eu, que estava mais para dentro da bancada, felizmente consegui dropar a onda. Desci um pouco no corte e joguei reto na espuma em direção à praia. Quem conhece Sunset, sabe que tem uma bancada exposta, ali perto da areia, do lado do canal. Naquela situação era mais seguro passar por cima da bancada e chegar na areia do que ir em direção ao canal, correndo o risco de ser arrastado pela correnteza, de volta para o outside.

Felizmente cheguei ileso na praia, mas o fato é que durante meus 40 anos de bodyboard, muitos momentos marcaram minha vida e minha carreira. Foram muitas vitórias, conquistas importantes e derrotas também, como ocorre na vida de todos os atletas que se destacam nos esportes que praticam. Os bons resultados e as vitórias têm sempre espaço nos meios de comunicação e, hoje em dia, nas redes sociais. O que geralmente não se divulga muito são os perrengues, que assim como as vitórias e derrotas, também acompanham a carreira, principalmente dos atletas que praticam esportes radicais. E essa situação que passei no Havaí foi, sem dúvidas, a pior situação que me ocorreu dentro d´água. Mas faz parte! Aloha, Claudio Marques

Cladio Marques Hawaii 1990 Kpaloa Team

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Team Kpaloa

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