No dia 8 de janeiro foi comemorado merecidamente o dia nacional da fotografia e do fotógrafo no Brasil. Maíra Kellerman é fotógrafa profissional há 10 anos e mora em Fernando de Noronha há 5 anos. Sua paixão pela fotografia foi despertada aos 19 anos de idade em um dos lugares mais belos do mundo. Confira abaixo a entrevista com essa renomada fotógrafa, conhecida pelo seu talento em perpetuar momentos vividos no mar.
Quando, como e por que decidiu se tornar fotógrafa?
Quando terminei o colegial, eu não sabia muito bem o que eu queria fazer, assim como muita gente. Mas acabei fazendo um intercâmbio para o Havaí. E lá entrei em contato mais forte com a fotografia. Eu tinha uma amiga fotógrafa que tinha todos os equipamentos e percebi que seria uma bela oportunidade de trabalho. Então comecei a me envolver cada vez mais com a fotografia e tudo isso foi bem natural, as coisas foram acontecendo e a paixão foi aumentando.
Quais são os equipamentos que você usa para fotografar dentro d’água? Você escolhe o equipamento de acordo com o esporte? Por exemplo: equipamento voltado para fotografar surf, equipamento para fotografar bodysurf.
Para fotografar dentro d’água eu trabalho com 3 equipamentos: canon 7d mark ii (uso duas lentes fisheye ou 50mm, depende da condição), a GoPro eu uso para fazer vídeo e tenho o meu celular que eu uso com uma caixa estanque para poder levar para o mar. Sobre o tipo de equipamento, a modalidade não influencia na fotografia. Mas se for um dia de tubo e água clara, eu entro com a fisheye para pegar um ângulo bem aberto. E quando tem muita corrente que é um dia que eu posso ficar mais afastada do surfista eu trabalho com a 50mm.
Você faz algum tipo de preparação física para ser capaz de lidar com as mais diversas condições do mar?
O estilo de vida daqui de Noronha já pede naturalmente que você tenha um bom condicionamento. O meio de transporte, por exemplo, é a bicicleta. Eu faço ioga e meditação, que me ajudam muito na respiração, capoeira e com certeza muito tempo de água por si só já ajuda nesse aspecto. Além disso, eu pratico surf e bodysurf que são dois esportes que me ajudam muito não só fisicamente, mas também em termos de percepção, timing da onda, posicionamento no mar.
O que uma pessoa que quer trabalhar com fotografia precisa ter, tanto em termos de equipamentos como também em outros aspectos?
Com certeza ter vontade de estar no mar, ter amor pelo olhar e sensibilidade pela fotografia não podem faltar. E em termos de equipamento você não precisa de muito. Pode começar com celular mesmo para ir trabalhando o seu olhar, tem a GoPro também que é um baita instrumento. E se você sentir que é isso mesmo que você quer, que você ama a fotografia, aí é válido investir em um equipamento melhor porque em termos de qualidade imagem isso vai ajudar bastante.
Quais são as maiores dificuldades que uma pessoa pode ter quando começa na fotografia subaquática?
Talvez uma das maiores dificuldades seja você estar com equipamento dentro d’água. Porque normalmente quem começa a fotografar dentro d’água costuma já ter intimidade com o mar, é alguém que veio do surf, do bodysurf ou do bodyboard. Então a forma de estar no mar, se deslocar e saber manusear um equipamento que às vezes é grande e pesado pode dificultar no início. E para quem vem do zero, quem não tem essa intimidade com o mar, vai ter que se adaptar, aprender a se posicionar no lugar adequado para não tomar tanta onda na cabeça. Mas isso é questão de adaptação e ganho de experiência. Por isso, no começo é legal ir com alguém que já tenha experiência, que mostre os caminhos para você se sentir em segurança, além de sempre observar o mar antes de entrar.
Como você faz para que as suas fotos sejam reconhecidas pelas pessoas sem que elas possam saber que são suas? Aquela coisa de bater o olho e saber que quem tirou as fotos foi a Maíra.
Essa pergunta é bem delicada, mas eu tenho a sensação de que essa coisa do olhar leva bastante tempo e dedicação. Algumas coisas influenciam para que as pessoas saibam que aquela foto foi feita por você, mesmo que o seu nome não esteja lá. A forma como você enxerga o mundo, a forma como você traz em forma de imagem aquilo que você enxerga é importante. Outro coisa essencial é a forma como você edita, como você trata as suas imagens, mas claro que o tempo que você passa na água se aprimorando e a dedicação também são primordiais.
Conta um perrengue marcante que você passou enquanto fotografava.
Um dia na praia da Azarujinha, em Portugal, o mar estava relativamente grande. Acabei tomando uma onda na cabeça e fui parar muito próximo a uma laje de pedra gigante, dava pra ver as pedras na superfície. Acho que se viesse mais uma série eu não teria dado conta de recuperar o fôlego. Só que essa onda que eu rodei junto e levei na cabeça foi a última da série, então assim que veio a calmaria, eu consegui sair logo daquele ponto e me safei. Mas foi uma experiência muito marcante por estar diante de pedras tão afiadas com equipamento.
Como o pé de pato Kpaloa te ajuda na fotografia?
A Kpaloa está na minha vida há muito tempo. Sem dúvidas é um instrumento de trabalho que me faz sentir muito segura no mar, além de me ajudar a ter explosão, um melhor deslize e conseguir me locomover mais rápido.
Escolhe um lugar que você quer muito fotografar e quais os motivos que te levam a essa escolha.
Tem vários, agora para colocar em uma lista é complicado. Eu tenho o sonho de fotografar em Nazaré, claro que com toda segurança possível, com moto aquática, com toda a estrutura que o ambiente pede. Também tenho vontade de fotografar em Jaws, lá eu já fotografei de fora d’água, o que me trouxe uma adrenalina impressionante. Então a vontade de estar dentro d’água em Jaws é surreal. Quero também estar em alguns mares na Austrália, Califórnia… E o motivo de todos esses lugares é o mesmo: a busca pela adrenalina, aquilo que faz o coração bater mais forte, que parece que vai explodir.
Deixa uma mensagem para quem quer começar a fotografar.
Se você ama o mar e sente que eternizar momentos é o que você quer fazer, vá com vontade, se jogue e não desista, mesmo que no início possa parecer difícil. Porque fotografia é tempo de água, de prática e questão de persistir, ou seja, independente de quantas ondas você leve na cabeça, continue no mar.