28 de dezembro é celebrado o dia do guarda-vidas, uma profissão que merece valor e reconhecimento por parte de todos. Nesta semana, Fabrício de Freitas de Oliveira, 1º Tenente do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS), relembra um salvamento complexo realizado no verão de 2011.
Estava eu novamente em mais um dia turbulento na praia da Cal em Torres, no Rio Grande do Sul. Apesar do tempo estranho, com muita nebulosidade, as pessoas queriam aproveitar aquele final do ano de 2011. Já havíamos feito diversos salvamentos naquela tarde, pois uma corrente de retorno bem encostada nas pedras fazia com que as pessoas que se aventurassem perto dela não conseguissem mais retornar ao banco de areia.
Por muitas vezes, conseguimos fazer a prevenção e orientá-las a não chegarem perto das pedras, mas mesmo com uma bandeira sinalizando o local perigoso, os banhistas continuavam acessando aquele ponto crítico da praia. Em um dado momento, desci da guarita para fazer a prevenção de três jovens que estavam bem no fundo e que retornavam em direção à areia muito próximos da corrente de retorno. Na metade do caminho, entre o posto de salvamento (guarita 10) e a beira do mar, os três acabaram sendo surpreendidos e o pânico se instalou naquele momento.
Rapidamente, entrei correndo pela bancada de areia, tendo a certeza de que meu colega de posto, Sargento Padilha, logo estaria do meu lado para auxiliar naquele resgate. Das três vítimas, duas conseguimos trazer novamente para a bancada de areia. Justamente porque sempre trabalhávamos com nadadeiras, já que elas são primordiais para dar a propulsão necessária não só para chegarmos mais rápidos às vítimas como para retirarmos da água com mais facilidade e maior agilidade.
Contudo, um deles ficou em um ponto ainda mais forte da corrente de retorno e as ondas estavam muito grandes e densas. Como a vítima estava muito cansada, meu colega ficou segurando-a, juntamente com o rescue can (equipamento flutuador) apoiado em seu corpo, para que não a perdêssemos em meio às ondas. Naquele momento, muitas tentativas foram investidas sem sucesso para tentar levá-la até a bancada no meio da praia, pois a correnteza lateral era tão forte que pareciamos estar em uma esteira, não saindo do lugar.
Um outro colega do posto de salvamento ao lado (guarita 9), Soldado Jeferson França, chegou para auxiliar naquele difícil resgate. E só tínhamos duas decisões a serem tomadas: ou entrávamos mar adentro, mesmo com um mar bem revolto, e faríamos toda a volta do morro da praia da Cal para sairmos na praia da guarita (comum em mar de nordeste). Ou tentavamos acessar as pedras juntamente com a vítima arriscando alguns cortes não só em nós mesmos como na própria vítima.
Tomamos a decisão em conjunto e optamos por enfrentar as pedras. Direcionamos nosso nado para o encontro delas e quando nos aproximamos, aguardamos o melhor momento para acessá-las. Após a incidência de algumas ondas, aproveitamos o pequeno lapso temporal de calmaria e colocamos a vítima para cima das pedras. Posteriormente, os dois colegas e eu também conseguimos alcançar o local rochoso.
Como num passe de mágica e com a proteção divina, nem a vítima e nem nós tivemos escoriações ou mesmo cortes. A subida no restante das pedras foi acompanhada por uma salva de palmas calorosa de dezenas de pessoas que assistiam atônitos o desfecho daquele complexo salvamento.
Ali estava o nosso maior pagamento, a sensação do dever cumprido e o reconhecimento da população frente ao nosso ato. Mesmo com o risco da própria vida, orgulho-me e me arrepio só de pensar nessa frase que resume o que tenho a ofertar ao próximo na missão que Deus me deu. É nisso que me inspiro sempre que tenho que enfrentar o perigo. Agradeço a ele por ter sido sua extensão em dezenas de salvamentos que já fiz ao longo da minha carreira. “Vidas alheias, riquezas a salvar!”
Uma resposta
Muito inspirador esse depoimento ! Parabéns ao bombeiro e Equipe !