O bodyboarding feminino brasileiro sempre foi uma hegemonia mundial. Desde o surgimento do tour, as atletas brasileiras sempre foram destaques nas competições, ocupando as primeiras posições do ranking até os dias atuais. Nesta semana, conversamos com Paola Simão, big rider e integrante do time Kpaloa para falarmos sobre esse maravilhoso esporte.
Você respira esse esporte há muitos anos. No seu ponto de vista, como se encontra o cenário do bodyboarding feminino a nível nacional? E falando mais especificamente sobre o Rio de Janeiro, como vai o esporte tanto na categoria amadora como na profissional?
No circuito nacional as atletas são de altíssimo nível técnico, tanto que diversas vezes podemos assistir baterias de nível de campeonato mundial. No Rio de Janeiro o cenário sempre foi forte, acho que desde a existência do esporte o estado concentrava o maior número de atletas que eram destaques mundiais. Isso teve uma repercussão gigantesca e acabou atraindo muitos patrocinadores que culminou na realização de grandes eventos. Hoje o cenário mudou… Temos atletas que sempre foram destaques nos mais diversos lugares que passaram, levantando fortemente a bandeira do esporte, mas está faltando uma força maior na nossa categoria de base, que podemos chamar de amadora. É preciso uma grande renovação, para que as mais novas ocupem os lugares das atletas atuais. No circuito brasileiro, a categoria amadora nos últimos anos veio forte e descobrimos diversos talentos espalhados pelo Brasil. Mas, ainda acho que poderíamos ter muito mais incentivo e apoio para que novos talentos possam surgir e se dedicar à prática , vendo um futuro através do esporte, não só como o principal trabalho, mas como qualidade de vida. Vale o destaque também para o surgimento de novas bodyboarders que se adaptaram ao freesurf e estão se dedicando a buscar ondas maiores pelo mundo. Acho que em breve, vamos poder incluir uma categoria de “big waves” dentro do bodyboard feminino.
O surf vem ganhando muita atenção nos últimos anos, isso ficou bem claro com o título mundial do Gabriel Medina no ano de 2014. Com o título do Adriano de Souza em 2018 e o do Ítalo Ferreira em 2019, o surf alavancou ainda mais. O que falta então para o bodyboarding ganhar mais espaço e ser tão “atraente”, como o surf? Porque os campeões mundiais temos tanto na masculino como no feminino…
O bodyboarding é um dos esportes que mais trouxe títulos mundiais para o Brasil. Falta realmente um grande investidor e gestor que traga empresas e marcas fortes que invistam no esporte e principalmente nos atletas. Essa dificuldade que os atletas têm em não conseguir concretizar algo sólido dentro da carreira, faz com que não exista uma continuidade na história desse esporte tão lindo e radical. E principalmente , o atleta se torna tão instável, que acaba não tendo como depender do esporte para viver. A partir do momento que se tem um investimento sério, criamos grandes promessas e talentos, fazendo com que atletas se tornem exemplos e inspirações para uma geração. Sem sombras de dúvida isso faz com que vidas sejam mudadas, esperanças são criadas e aumentam os sonhos dentro de muitas realidades. No surf, como em qualquer esporte no Brasil, a realidade não é muito diferente. Quantos atletas de nível mundial temos dentro do surf que não são reconhecidos? Poderíamos ter muito mais de um Medina, Guilherme Tâmega, Neymara Carvalho, Isabela de Souza espalhados pelo Brasil.
Em março comemorou-se o dia internacional da mulher, uma data muito importante para refletirmos sobre a importância delas nos mais diversos âmbitos da sociedade. Falando do bodyboarding, como é ser uma atleta mulher desta modalidade?
Ser bodyboarder mulher dentro de um universo 70% masculino, não é tão simples, mas também não é tão surreal. Claro que em diversos mares, muitas vezes os homens não liberam ondas, até porque no inconsciente deles, a mulher não vai dropar ou não vai aproveitar a onda como deveria. Então é preciso se portar e colocar um pouco de respeito, para que você possa surfar nos quatro cantos do mundo sem estresse. Dentro desses anos todos de surf, claro que já tive alguns constrangimentos de sair bufando, chateada da água, mas confesso que tive muito mais momentos mágicos e de alegrias.
A mídia de um modo geral, tem um poder de influência muito forte na sociedade. Nos esportes, em geral, muitos meios de comunicação costumam focar na beleza do corpo, na estética em si, do que na performance das mulheres atletas. Você enxerga o mesmo acontecendo na sua modalidade?
Acho que em qualquer meio esportivo, isso acontece mesmo!! Um padrão difícil de quebrar, quando se trata de atletas que se tornam exemplos e muitas vezes são vistos como “produtos” dentro de um mundo consumidor. Para as marcas investidoras, infelizmente isso ainda é muito forte. O atleta com o passar dos anos, enxerga que tem que fazer um trabalho dentro e fora do seu esporte. Ainda mais nos dias atuais, onde tudo é visto, manipulado e julgado tanto para o positivo como negativo. Como o esporte se torna referência de saúde, leveza, alegria e radicalidade nas ondas em lugares paradisíacos, o quesito beleza ainda é muito cobrado.
Quais são os maiores padrões a serem quebrados então para que o bb feminino possa se fortalecer e alçar voos mais altos?
Acho que depois de muitos anos, chegamos em um momento que estamos conseguindo nos unir mais e estamos chegando com mais força no cenário novamente. Tivemos incríveis eventos feminino, como o Rio Delas, realizado na Barra da Tijuca. Ano passado teríamos um circuito mundial sólido, onde a primeira etapa iria acontecer no Espírito Santo, mas devido a pandemia, tudo se estagnou. As premiações estão sendo igualadas ao masculino, isso é também uma enorme vitória para nós!! O bodyboarding feminino também entrou na disputa de eventos brasileiro de ondas grandes, também um excelente destaque para nossa categoria. Temos talentos em todos os níveis e tenho certeza que o esporte a partir de agora voltará com garra e retornará ao seu local de destaque, de onde jamais deveria ter saído.