Letícia Parada, Atleta Kpaloa, conversa sobre o atual momento do bodysurf
Letícia Parada é atleta do time Kpaloa desde 2019, mesmo ano em que criou o canal de bodysurf “Ela No Mar” no YouTube. Nesta semana, a professora de Educação Física e bodysurfer falou sobre a sua ligação com esporte, planos futuros e a relação com a Kpaloa.
Quando surgiu o desejo de trabalhar com bodysurf e como isso aconteceu para você?
Eu me apaixonei pelo esporte muito nova, sempre foi meu sonho poder trabalhar com algo que fosse uma paixão verdadeira para mim. Mas na realidade foi um caminho bem árduo, por ser pouco pavimentado, então eu fiquei muito tempo produzindo conteúdo sem ganhar nada financeiramente falando. Durante um longo tempo foi apenas por hobby, diversão e a partir do trabalho despretensioso que eu já fazia, foram surgindo novas oportunidades, então eu considero que foi uma mistura de dedicação e sorte. Fora o tempo em que tive a oportunidade de morar em Fernando de Noronha também me ajudou muito, na época acontecia muita coisa de bodysurf na ilha e eu consegui me destacar pelo trabalho nas redes sociais.
Como foi esse tempo em Noronha? Você morou lá durante quanto tempo?
Eu fui para Noronha na verdade para ser voluntária do ICMBio, mas obviamente sempre foi um sonho surfar na Cacimba do Padre, uma das ondas mais perfeitas do Brasil para bodysurf. Então sempre que tinha um tempo livre eu já corria para o mar, o que acabou sendo um tempo de muita evolução para mim. A onda na Cacimba tem uma força diferente, ela te oferece mais oportunidades diárias de pegar um tubo, encaixar uma manobra, então posso dizer que apesar de ter sido um tempo de muito trabalho, foram os melhores 6 meses da minha vida e sou muito grata por tudo que vivi na ilha.
Como surgiu o convite para ser atleta do time Kpaloa e qual o sentimento de ser parte da equipe?
Foi nesse período de Noronha mesmo. O Henrique Pistilli, meu amigo Homem Peixe, tinha me convidado para ajudar em alguns projetos audiovisuais dele que também tinham a Kpaloa envolvida. Na época eu estava com o meu canal do YouTube fluindo bem e por ser fã da marca, eu já havia feito vídeos falando sobre as nadadeiras da Kpaloa. E a Kpaloa acabou gostando do meu trabalho e me chamou para fazer parte da equipe. Então obviamente foi uma notícia que eu recebi com muita felicidade e uma oportunidade que eu não poderia deixar de agarrar, principalmente porque a Kpaloa entendeu que o meu feeling não era competitivo, sempre foi mais de envolver e expandir a comunidade do esporte.
Por que a competição não te atrai?
Na realidade eu sou uma pessoa muito competitiva. Não apenas em relação aos outros, mas em relação a mim mesma. Eu compito comigo mesma, em tudo. E o esporte competitivo sempre fez parte da minha vida, desde a época escolar até a Faculdade de Educação Física. Eu competi em vários esportes como Voleibol, Futsal, Xadrez, Natação… Mas eu nunca me senti atraída para competir no bodysurf. Porque eu acredito que gol é gol, ponto é ponto, quem chegar primeiro vence. Mas no bodysurf, o surfe de modo geral, ainda é muito subjetivo. Só você sabe a dificuldade que foi pegar aquela onda, fazer o tubo… Então eu vejo que perderia o gosto de surfar por causa de nota, de julgamento. É algo que até o presente momento digo que não faria, embora acompanhe de perto a cena competitiva e tenha projetos de ajudar no crescimento do circuito e da cena nacional como um todo. Mas acredito que eu contribuo mais pelo esporte naquilo que eu faço de coração, que é a comunicação com a comunidade, dicas de treinamento dentro e fora d’água, entrevistas. Esse trabalho que eu faço na Kpaloa passa por muitos detalhes que às vezes passam despercebidos do público, mas que são igualmente vitais para o esporte, como a relação entre marcas e atletas, patrocínios, criação de conteúdo.
Como você vê o atual momento do bodysurf no Brasil?
O Brasil sempre teve atletas de ponta no bodysurf, bodyboarding e surfe. E o cenário desses esportes teve grande expansão com as redes sociais. Fotos e vídeos hoje rodam o mundo inteiro e atingem muito mais pessoas, inclusive algumas que terão seu primeiro contato com a modalidade a partir daí, sabe? A internet impactou positivamente esportes como o surfe e o skate, recentemente a gente pôde ver o surfe na Olimpíada com um brasileiro campeão conquistando a medalha de ouro. Dentro desse contexto, eu vejo o bodysurf ainda muito aquém do seu potencial, porque apesar de ser mais democrático e acessível do que o próprio surfe já que você consegue surfar só com nadadeira ou até sem equipamentos, ele é muito menos divulgado na mídia, muito menos falado. Temos excelentes atletas tanto de big waves quanto do circuito brasileiro, era uma modalidade que estava se consolidando e fortalecendo muito nos últimos anos. Mas que sofreu muito com a paralisação dos eventos devido a pandemia, muitos projetos tiveram que ser adiados, muita coisa engavetada e isso é algo que vai ter que ser retomado aos poucos e com cautela, mas tenho certeza que esse esporte ainda vai ser muito grande, principalmente no Brasil.
Quais os planos futuros?
O ano mal começou e já pude surfar em picos que gostaria, assim como em lugares que não conhecia antes. Fui para Torres, no Rio Grande do Sul, onde participei da tradicional prova Guarda-Vidas de Pedra do CBMRS e acabei surfando nas praias da cidade. Depois fui para Floripa, onde vivi 5 dias intensos na ilha, fazendo 2 sessions por dia com amigos queridos em vários picos alucinantes. Então o ritmo está frenético e quero que siga assim em 2022, sem apontar qual pico quero conhecer. Quero deixar as coisas fluírem, que as trips aconteçam naturalmente para eu reencontrar a galera do bodysurf, desbravando novos picos e alavancando meu novo projeto que chama-se Mundo Bodysurf. É isso!