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Surfando na floresta: Xandinha conta a experiência de encarar a Pororoca

Por Letícia Parada

Imagine um lugar inusitado para se praticar bodyboarding. É provável que você tenha pensado em algum ponto geográfico de ondas cristalinas e tubos perfeitos. 

Mas você já cogitou surfar na floresta? Mude o cenário. Vá da praia para o rio. Dos peixes e tubarões para as cobras e jacarés. Pororoca. Sim, talvez você já tenha escutado falar nela.

A Pororoca, que em tupi significa estrondar ou estourar, é um fenômeno natural resultante do encontro das correntes fluviais com as águas oceânicas. O tal “estrondo”, tão intenso que derruba árvores enormes e provoca mudanças no leito dos rios, segue atraindo surfistas do mundo todo.

A bodyboarder profissional e atleta do Kpaloa Team Alexandra Ereiro é uma dessas pessoas. Mais conhecida no mundo do bodyboarding como Xandinha, a paraense coleciona títulos no esporte: já foi campeã do KPALOA Musas e também do Paulista Bodyboard Attack, e se aventura nas Pororocas desde 2007.

Neste mês, Xandinha foi atrás de mais uma Pororoca e contou como foi essa trip, na entrevista que você confere logo abaixo:

Você já surfou muitas vezes a Pororoca. Qual é a sensação de pegar essa onda?

Surfar a Pororoca é algo mágico. A onda da Pororoca é perfeita, diferente e inédita sempre. Imagina uma onda que vem do mar para dentro do rio e forma uma imensidão cabulosa? O barulho é assustador.

O barulho? Como assim?

Como o rio tem várias entradas, dependendo de onde você estiver é possível escutar o barulho da onda entrando lá fora. E as aves, as cotias, as cobras, os jacarés, insetos se retiram. E a gente que está ali assiste tudo isso. É muita adrenalina.

Falando em adrenalina, qual é a diferença entre surfar no mar e surfar a Pororoca?

O cenário em si gera uma adrenalina enorme. No mar a gente espera a ondulação, sabendo que peixes podem se aproximar, e de repente um tubarão também. Mas na Pororoca é diferente porque você vê os animais te alertando, do tipo “olha, vai vir a onda… ela já está vindo”. Eles estão aguardando isso acontecer.

Como você costuma se preparar para surfar a Pororoca?

Sempre me preparei fisicamente na academia, mas o preparo maior é o psicológico, sem dúvida. Até porque eu não tenho uma alta frequência de treino no mar, já que passo meses sem surfar porque aqui em Belém não tem praia. No litoral do Estado tem a praia do Atalaia que fica há 4 horas daqui, e a praia de Mosqueiro que é de água doce, mas só rola onda de Agosto a Novembro. 

Então, quando o calendário do circuito brasileiro é divulgado, eu costumo viajar 15 a 20 dias antes da competição para treinar. Mas falando especificamente sobre a Pororoca, eu não me preparei muito para essa de fevereiro porque eu fiquei doente duas semanas antes de viajar. Tive uma gripe forte e fiquei 9 horas internada. Achava que não iria mais viajar para essa Pororoca, mas me recuperei bem, cuidei da alimentação e tomei bastante Vitamina C.

Independente de onde uma pessoa vá surfar, o planejamento é essencial para evitar determinadas situações. Pensando nisso, existe algum risco em surfar a Pororoca?

É isso mesmo. Você precisa ir com uma logística. Sem isso, você corre vários riscos, como aconteceu comigo uma vez: eu fui nadando até o local, e um jacaré pulou atrás de mim. Mas quando se tem uma equipe, uma logística, a gente não vai pela margem. Vamos pelo rio adentro, em uma “banana”, ou em uma lancha. 

O meu conselho para qualquer surfista que nunca foi à Pororoca é: vá com alguém que realmente tenha experiência e seja especialista em surfar a Pororoca. Além disso, quando a gente tem essa logística, não corremos o risco de perder a onda, porque na remada você perde fácil. Você rema, rema e de repente perde a onda. E aí esquece a Pororoca porque você não vai conseguir pegar essa onda. Já foi. Com a logística, a Pororoca pode passar e você ficar? Sim. Mas o jet ski te pega e te coloca novamente na onda.

Você lembra de ter passado alguma situação difícil que causou medo na Pororoca?

Sim, agora em fevereiro aconteceu esse momento com o jacaré no rio Mearim, no Maranhão. Eu cheguei lá um dia antes de toda a logística, ou seja, antes do jet ski, antes da banana. Fomos surfar cedinho no dia seguinte. Eu, cinco amigos e algumas pessoas do local, fomos andando pela margem e depois tivemos que entrar no rio que já estava sendo sugado, estava puxando muito. Quando a gente pulou no rio, escutamos um barulho bem atrás de nós. Vimos um rabo. Era um jacaré. Ele estava camuflado, coberto de lama e não tínhamos visto antes. Eu entrei em desespero pela primeira vez na minha vida depois de 10 anos surfando as Pororocas do Brasil.

Estava o Junior, um dos pioneiros na Pororoca, ele até ficou rindo de mim porque ele disse que o jacaré não ia nos atacar, na verdade ele estava fugindo da Pororoca que estava para chegar. Tudo isso gera uma adrenalina fora do comum.

Quando estamos entre surfistas e falamos em Pororoca logo vem a curiosidade sobre a distância e o tempo. Qual foi a Pororoca mais longa que você já surfou? Quanto tempo você surfou a mesma onda?

Meu tempo máximo foi de 15 minutos na Pororoca do rio Mearim, sem nenhuma intervenção de jet ski. Em 2013, surfei sozinha uma Pororoca maior no Rio Araguari durante 7 minutos. 

É cansativo? Não posso dizer que não é porque é sim. As pernas cansam pelo tempo que você fica na onda, mas falando especificamente dos pés eu não sinto fadiga. Uso o pé de pato Sideline da Kpaloa e felizmente nunca senti câimbra e nunca tive bolhas mesmo estando em ação por muito tempo como é o caso da Pororoca. 

Inclusive, uma dica que eu dou para os bodyboarders que estão planejando surfar a Pororoca é usar KPALOA. Imagina você se organizar, gastar dinheiro para surfar uma onda que acontece numa época específica e quando chegar lá você sentir dor e não conseguir desempenhar 100%? Fora de cogitação. Como a borracha do pé de pato KPALOA é macia, eu não tenho esse problema. Fora a propulsão que só a KPALOA me oferece, as longarinas laterais que me ajudam a fluir sem ter muito atrito e o sistema de drenagem que é muito eficiente não deixando que pedaços de galhos fiquem nos meus pés.

De modo geral, o que a Pororoca te ensinou?

Muita coisa. Me deu força, sabe? Eu sempre tive respeito pela natureza, sempre respeitei o mar. Mas a força, a energia maior, a coragem, vieram da Pororoca, desse fenômeno. E apesar de ser uma atleta competidora, às vezes eu sinto medo do mar. Tenho mais medo do mar do que da Pororoca. Eu tenho uma aproximação maior com a Pororoca do que com o mar.

E quais são os seus planos para 2020? 

Bom, eu vou dar continuidade no Circuito Brasileiro e vou participar da etapa do mundial no Espírito Santo. Também espero conseguir viajar para fora do Brasil esse ano, quero pelo menos participar de duas etapas internacionais. A minha vida de atleta é uma guerra, muito esforço envolvido. As pessoas não sabem, mas eu sou a única representante do Norte do Brasil e tenho um projeto social. Quero levar dois alunos meus para participar junto comigo no circuito brasileiro. Desde que eu comecei a competir, nunca teve nenhum representante do Pará. Se eu levar esses garotos será a primeira vez que o Pará vai ter uma equipe. É uma forma de dar continuidade na prática do esporte.

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Team Kpaloa

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