Renata Cavalleiro é uma atleta expoente do bodyboarding brasileiro que ao longo dos anos vem contribuindo para o desenvolvimento da modalidade no país. Em 2003, Renata criou o “Garotas Bodyboarders”, site que reunia conteúdo especializado de bodyboarding feminino e que foi o canal mais importante para a união das atletas brasileiras deste esporte.
Dentre seus principais títulos encontram-se o de campeã paulista em 2005 e vice-campeã em 2006, campeã amadora do circuito Kpaloa Musas em 2007 e vice-campeã em 2006, campeã da categoria open do Circuito Copa Rio em 2008 e campeã mundial amadora em 2008.
Mas no final de 2009 algo mudaria positivamente a vida de Renata: a chegada da maternidade. Conversamos essa semana com a bodyboarder carioca, integrante do Kpaloa Team, para entender os desafios envolvidos em ser mãe-atleta.
Qual foi a mudança mais significativa no seu corpo durante a gravidez? E após? Você sentiu que o processo influenciou fisicamente a sua performance?
Durante a gravidez, eu surfei até sentir que a barriga poderia estar “em risco”, amassando o bebê, sabe? Então consegui pegar onda até quase 4 meses de gravidez. Como nosso esporte exige deitar na prancha, não quis ficar amassando o meu barrigão. Eu voltei a surfar 18 dias após o parto da Alice. O maior desafio neste início foi ainda estar uns 4 kg acima do meu peso, além de estar cheia de leite, devido ao período da amamentação. Então era um contato dolorido.
Você chegou a pensar em se aposentar em algum momento? Antes, durante ou depois da gravidez?
Não cheguei a pensar nisso não, pelo contrário, queria voltar o quanto antes. Eu inclusive competi a última etapa do Circuito Mundial de 2009, nas Ilhas Canárias, quando já estava com um mês de gravidez.
Você já perdeu espaço ou apoio no mundo esportivo por conta da maternidade? Ou pelo menos soube de algo parecido que tenha acontecido com outra atleta?
Isso não aconteceu comigo, eu conto com parceiros, como a própria Kpaloa, que compreendem esse momento. Sei que pode não ser a realidade de muitas, mas eu gosto de acreditar que isso hoje em dia está mudando.
Depois que se tornou mãe, você sentiu que se arriscava menos, por exemplo, quando está surfando?
No começo sim. Como eu havia ficado muitos meses sem surfar, o retorno certamente foi mais devagar, só nas marolas e para me divertir no pouco tempo disponível. Afinal, bebê pequeno mama de 3 em 3 horas! Mas depois isso mudou e eu voltei a me desafiar mais.
Como é ser mãe e atleta ao mesmo tempo? Foi algo difícil no início ou foi natural?
Se eu disser que não há dificuldades, é mentira. A gente tem sempre alguma preocupação, seja com a amamentação, com troca de fraldas, choro ou mesmo com a questão de estar lá disponível. Em 2012 eu cheguei a dar um tempo nas competições de bodyboarding, passando a me dedicar mais a outro esporte, a corrida. Lá em casa o maior desafio era o revezamento que eu precisava fazer com o Julio, meu marido, que também pratica vários esportes. Porque a Alice ainda não fica sozinha em casa e não temos babá ou qualquer pessoa de apoio para isso. Mas no fim das contas sempre é possível conciliar e acabamos achando um caminho.
Ser mãe contribui de que forma para a sua carreira esportiva? O que você acha que agregou no seu olhar e na sua mentalidade como atleta?
Como mãe, o fato de eu ser atleta sempre me faz bem saber que estou dando bons exemplos para a Alice, seja nos momentos bons ou ruins no esporte. Sempre tem lições para ensinar. Como ela vivencia isso diariamente, sua personalidade já absorveu muita coisa e isso acaba refletindo naturalmente em como ela é hoje. Como atleta, ser mãe acabou me ensinando a ter ainda mais precaução e responsabilidade, características que eu já tinha, mas se tornaram ainda mais fortes.
Conta um pouco sobre a sua rotina de mãe e atleta.
Bom, eu treino diariamente. Eu surfo de manhã e depois que volto pra casa, faço aquelas arrumações básicas e então trabalho o resto do dia. Tanto eu como o Julio estamos trabalhando em esquema remoto (home office), então estamos perto da Alice o tempo todo. Além do bodyboarding, tem dias que eu corro, e tem dias que Alice tem aula de natação (e eu aproveito e nado também).
Uma pergunta agora sobre a sua filha Alice, ela geralmente te acompanha nos treinos de natação, bodyboarding…? Como é a relação dela com o esporte? Ela sempre gostou? Foi levada desde pequena para o mar?
A Alice nos dá um orgulho tremendo! Ela foi para o mar com um ano de idade, nós a empurrávamos na espuma da beirinha. Aos poucos começamos a levá-la junto na prancha (ora comigo, ora com o Julio). Até que em 2016 ela teve a primeira experiência de surfar sozinha com uma prancha, isso foi lá em Barbados. Depois disso, compramos uma prancha pra ela e já já estará na hora de trocar! E hoje em dia nós fazemos natação 2x na semana, e ela está evoluindo bastante. Quando o mar está com ondas de até meio metrão, eu e Julio a levamos junto para surfar, e percebemos como ela é destemida. Ela confia muito na gente, então está em sintonia total! Além disso, eu a incentivo a correr na areia e o Julio a leva para pedalar. A última pedalada deles foi de 30 km, sendo que ela já chegou a 40 km!
Na sua opinião de mãe e atleta, por que o esporte é tão importante na vida da criança e qual dica você dá para alguém que está em dúvida se deve levar o filho para praticar alguma modalidade esportiva?
O esporte mexe com várias habilidades, tanto físicas como mentais. A criança que cresce em um ambiente com muito acesso aos mais variados esportes, acaba desenvolvendo mais coordenação motora, mais auto-estima, confiança, determinação, coragem… você vê, são várias soft skills que o mercado de trabalho valoriza — coisa que no futuro, quando ela se tornar adulta, fará muita diferença. Por isso, eu recomendo sem medo a qualquer família que incentive — sem pressão — seus filhos e filhas a praticarem algum tipo de esporte, seja na companhia dos pais ou em escolinhas.