Fraqueza muscular, mobilidade comprometida, visão dupla. Esses foram alguns dos sintomas que Eduardo Hiroshi experimentou pela primeira vez alguns anos atrás. Ao ser diagnosticado com Miastenia gravis, uma doença rara e autoimune, Hiroshi decidiu dar uma guinada na vida. Abriu mão da carreira acadêmica em Educação Física e decidiu fazer sua história no mar fotografando em Maresias.
Como, quando e por que decidiu se tornar fotógrafo?
Antes mesmo de comprar minha primeira câmera, eu ficava impressionado com as fotos de surf das revistas, principalmente com as fotos aquáticas. Entretanto era algo distante do momento que eu vivia, pois meu plano era seguir na carreira acadêmica já que me formei em Educação Física. Cheguei a pesquisar sobre as câmeras e lentes, para experimentar algo na fotografia, mas as contas e valores dos equipamentos não fechavam. Aliás, sempre que eu encontrava com algum fotógrafo na praia, ficava empolgado para que eles captassem algum momento meu na sessão de surf.
Isso foi entre 2011 e 2012, era raro avistar alguém fotografando na praia. O tempo passou e com a popularidade dos smartphones, entre as minhas idas e vindas das sessões de surf, eu presenciava momentos que me inspiravam e que chamavam a minha atenção. Desse modo, eu registrava os momentos com o celular, depois fazia um trabalho de edição e publicava nas minhas redes sociais. Sendo que alguns amigos me elogiavam e incentivavam a fazer mais fotos.
Fiquei com essa ideia na cabeça até que em 2016 avistei um fotógrafo aquático captando os momentos da galera do freesurf. Foi um período onde a Mistenia Gravis estava estabilizada e tinha mais disposição para entrar no mar. Novamente fui pesquisar sobre equipamentos e como dominá-los, e antes mesmo de comprar a câmera pesquisei e estudei bastante em fóruns de fotografia, no YouTube, em sites especializados. Em qualquer lugar que eu encontrava alguma dica, fazia as minhas anotações. Então era só comprar os equipamentos e começar, porém eu não tinha dinheiro suficiente, além de não querer pedir dinheiro para a minha mãe. Até que um parente pediu dinheiro emprestado para ela e eu pensei “Que raios ele pediu e eu não tinha coragem para fazer isso?”. Então expliquei para ela a ideia de fotografar os surfistas, logo de cara ela ficou um pouco desconfiada, mas liberou R$2.500,00. E assim por quase 2 meses fiquei fotografando da areia. Mas sentia que ainda faltava algo e decidi juntar dinheiro para comprar uma caixa estanque. Juntei dinheiro com as fotos que vendia, consegui vender alguns livros da faculdade, uma GoPro antiga e aqui estou.
O que a fotografia significa para você?
A fotografia trouxe muitos acontecimentos bons na minha vida, além de ser minha profissão, fiz novos amigos, tive vivências que jamais imaginei que fossem acontecer, conheci histórias fantásticas… Acredito que toda essa soma acaba se tornando uma terapia para a minha vida.
Qual é o seu estilo de fotografia e quem são as pessoas que te inspiram nessa profissão?
Eu procuro registrar de forma surpreendente o que eu vejo e sinto naquele momento. Sobre as inspirações fotográficas, eu tenho referências de pessoas na fotografia, mas eu me vejo como admirador dos trabalhos desses fotógrafos. E realmente o que me inspira, pode ser qualquer coisa, qualquer pessoa, qualquer história de vida, algum acontecimento legal, alguma conversa positiva. Tudo pode ser inspirador. Para mim é uma questão de observar e fazer acontecer.
Como é a rotina de um fotógrafo? Você faz algum tipo de preparação física fora ou dentro d’água?
Com a pandemia e por estar longe do mar nesse período, tenho estudado novas coisas, feito alguns testes e abrindo a mente para novos caminhos na fotografia. Sobre a preparação física, sempre fui próximo dos esportes, porém desde o diagnóstico da Miastenia Gravis, tive que reaprender meus novos limites e deixar de fazer coisas da minha rotina de antes. Até então fazia caminhadas, alguns exercícios em casa e jogava basquete com alguns amigos. E depois de 8 anos dos primeiros sintomas, em 2021 voltei a correr 5km-7km, algo que antes era desconfortante e trazia à tona os sintomas da Miastenia Gravis. Também tenho pedalado bastante, mas a corrida para mim é excelente principalmente por trabalhar a consciência corporal. E claro, a natação também, eu gosto de nadar em qualquer lugar e condição do mar.
Hoje quais são os seus objetivos com a fotografia? Tem algum lugar que você sonha fotografar?
Eu pretendo fazer mais viagens, ter novas experiências conhecendo outros lugares e pessoas, fazer algumas visitas a alguns amigos. Basicamente isso seria muito enriquecedor. Não sei quando isso tudo irá acontecer, mas sobre fotografar em um local em específico a ideia é ir para o Hawaii e fotografar em Pipeline.
Conta um momento memorável que aconteceu contigo quando estava fotografando.
Agora mesmo lembrei de um registro marcante que foi na minha primeira sessão de fotos em Paúba. Entrei no mar e logo notei algo estranho com o equipamento, estava fazendo um barulho na lente. Pois bem, tinha esquecido de desligar o foco automático e a configuração estava errada. Sai correndo da água para desligar o foco automático e ainda deixar tudo ok em foco manual. Assim que entrei vi um surfista cabeludo e em poucos minutos ele se jogou em uma bomba, que não era para qualquer um. E assim deu boa, essa foto foi página dupla na Revista Trip, e o surfista era o Jho Tavares. Além desse relato, tenho muitos momentos memoráveis, pois toda sessão tem uma história boa para contar, seja de uma onda marcante do dia, algum perrengue ou alguma pranchada que já tomei rsrs.
Falando em perrengue, que tipo de situação adversa um fotógrafo pode passar? E de que forma a nadadeira ajuda em situações como essas?
Na minha visão, sem as nadadeiras não somos nada. Porque para se posicionar, ter um rápido deslocamento e captar o melhor momento é essencial ter um nadadeira de qualidade, de alta performance como a Kpaloa Tritão. Isso sem falar em outras situações de risco, como por exemplo, quando o surfista passa muito próximo de nós ou quando o mar está grande. Precisamos estar bem equipados para estarmos seguros. Em uma experiência ímpar, eu perdi uma das nadadeiras no deslocamento com a moto aquática até o outside. Mesmo assim encarei a sessão com apenas uma nadadeira e foi eficiente na natação. Apesar da perda, consegui fazer o trabalho porque a nadadeira nos ajuda muito.